Na gélida manhã de 13 de Fevereiro de 1692, trinta e oito homens do clã MacDonald foram assassinados por convidados a quem ofereceram comida e tecto na noite anterior. Quarenta mulheres e crianças acabaram por morrer ao frio na neve, depois de todas as casas terem sido queimadas. O massacre de Glencoe ocorreu porque o clã ofereceu resistência em aceitar o Rei de Inglaterra como seu soberano.
No nosso passeio à Escócia, no meio das Highlands, parámos para contemplar as Three Sisters, as três montanhas que protegem o glen, ou vale onde este massacre aconteceu. Foi de manhã cedo, no dia 15 de Fevereiro de 2010. O tempo estava agreste, em pouco tempo começou a nevar. Tudo indica que noutra vida eu tive algo a ver com esta matança. Depois de ter estado a tirar fotografias e a tentar visualizar o que a história destinou a este lugar, escorreguei, caí e apoiei-me muito mal com o pulso esquerdo. Basicamente consegui pôr os ossos que ligam a mão ao pulso um em cima do outro, como o médico explicou, e dei a mim mesma a dor mais aguda que alguma vez senti.
Dizem os escoceses que os fantasmas dos MacDonald ainda por aqui andam.
Agora a parte gira, das drogas e do delírio!
Fui atendida no Hospital de Fort William, a cerca de meia hora do local da ocorrência. Enfermeiros e médicos fantásticos, zero minutos de espera, um cuidado espectacular. Logo a abrir, deram-me uma máscara para ir respirando, que vim a saber que era éter. Aliviou de imediato a dor, mas não o suficiente para deixar de senti-la, o que me deu uma gana incrível de sorver a botija toda. Deixei de sentir o corpo, excepto o pulso. Então, com a minha cabeça cheia de éter, decidi arrancar o meu braço esquerdo e atirá-lo para longe. Ele ficou a pairar no ar. De vez em quando chegava-se a mim, mas eu engolia mais uma golpada de gás e zás! lá voltava o meu braço para o tecto. Quando tive consciência que estava a imaginar o meu braço a flutuar, parti-me a rir, mesmo, à gargalhada. Estava sozinha na salinha, deitada numa maca e com um catéter no braço direito. Com as minhas gargalhadas, veio a enfermeira Liz.
Das 13:00 até às 16:30, hora a que fui operada, foi um festival de painkillers: morfina e mais uma coisa qualquer que nem me lembro pelo catéter acima, deixaram-me a falar pelos cotovelos, intercalando momentos de choro ou riso, enchendo-me de preocupações parvas que ia dizendo à Helga, coitada, também ela com as férias estragadas.
Há fotos destes momentos, dos meus olhos vermelhos, do pulso torto, os dedos cheios de lama etc. Coisas giras para mostrar aos netos.
A anestesia geral fez-me eclipsar umas horas do meu dia. Uma sensação estranhíssima como se não tivesse vivido essas horas. Acordei. Um enfermeiro olhou para mim e disse: Scotland. Olhei para o meu pulso perfeitamente engessado. A mão e as unhas perfeitamente limpas.
Quanto ao inferno que tem sido a minha vida sem um braço activo... fica para outro post. Uma das dificuldades é mesmo teclar. Uma das mil.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Fear and Loathing in Scotland
genialmente observado por
Hawaiian PinUp Girl
às
19:27
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é a vida...,
viagenzinhas
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Up in the air
Primeiro começa com algum potencial, depois começa a ficar muito previsível, mas depois há uma reviravolta e, somado, até resulta num filme engraçado.
Granadinos, si me están leyendo, quiero que sepan que siempre me acuerdo de esa cuidad que huela tan bien y que mola tanto! a ver si me pongo 'up in the air' para os visitar. Os hecho de menos!
genialmente observado por
Hawaiian PinUp Girl
às
11:39
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ai que boas notícias,
cineminha
sábado, 6 de fevereiro de 2010
An Education
Sei que estou cá há poucos meses. Mas custa-me perceber esta gente de Cardiff. É sexta à noite, a St. Mary Street está cortada ao trânsito, como todos os fins-de-semana. Isto porque todos as sextas e sábados esta rua transforma-se numa espécie de Praia da Rocha em Agosto à noite. E hoje, curiosamente, vi mesmo miúdas em bikini. Disseram-me que cortam esta rua porque, antes disto, eles punham-se tão bêbados, tão bêbados, que espetavam-se de carro contra as montras das lojas.
No resto da cidade, há um potencial enorme de coisas a acontecer em sítios super interessantes. Concertos, performances, teatros, uma oferta variadíssima.
Bem sei que o conceito de 'having fun' varia muito de pessoa para pessoa. Mas vir de cidades onde as pessoas se queixam que a oferta cultural é pouca, para um sítio onde a oferta cultural é muita, but they just don't give a shit, faz-me alguma confusão e um pouco de revolta.
Hoje é sexta feira, e a sessão das 21:30 num dos muitos cinemas de Cardiff tinha 3 pessoas. Eu era uma delas.
Deixe-se de lamúrias Susana, as pessoas são como são.
Fui ver um filme que recomendo tremendamente. O filme demorou a chegar a Cardiff, apesar da produção ser nacional (agora não digam que são só os portugueses que não apoiam o cinema português, raios!). Fiquei de certa forma triste, porque na estreia de um filme brilhante, britânico, estávamos 3 pessoas. Pus-me a pensar no consumo cultural e todas as teorias que leio e que se debatem nos meandros académicos. Ironicamente, o filme chama-se An Education.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Filmes de fim-de-semana
9 Songs (2004) - A verdade é que, se a arte contemporânea, a literatura. etc. o fazem, porque não também levar o sexo explícito ao cinema mainstream? Este foi o raciocínio do realizador, Winterbottom, que sem dúvida se arriscou, mas conseguiu fazê-lo de uma forma bonita, natural. Às tantas se calhar um bocadinho em demasia, porque, espremendo, o filme não é muito mais do que isso.
The Private Lives of Pippa Lee (2009) - haverá maior motivo para um realizador (senhora, neste caso) se galvanizar do que ter no elenco do seu filme a Monica Bellucci, a Julianne Moore, a Maria Bello, entre outros, como personagens secundárias? Só por isto já vale a pena ver o filme (se calhar só por esta razão mesmo).
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